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sobre a memória

por jorge c., em 25.09.14

A memória é, talvez, uma das maiores provas de humildade. Ela é um sinal da nossa atenção, da nossa vontade de apreender, de aprender e de reconhecer. Recordo-me, por exemplo, da origem da maioria dos meus discos - quem me mostrou ou onde comprei. Recordo as pessoas e o seu entusiasmo (e como também o comprei). A discussão sobre arrogância e humildade não pode ser feita sem a ideia do reconhecimento. No fundo, é como se não houvesse dialéctica. Já ninguém ganha discussões por causa da dialéctica. A dialéctica está morta.

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definições

por jorge c., em 19.09.14

"A Borda d’Água é, segundo o Dr. José Leite de Vasconcelos (Etnografia Portuguesa Vol. III), expressão meramente popular, cujo protótipo se vislumbra, já em 1527 (…). Borda d’Água é expressão muito mais restrita que Ribatejo, mas sem delimitação rigorosa, como acontece com a maior parte das denominações populares. (...) À afamada feira de Vila Franca de Xira chamavam os velhos: feira da Borda d’Água."

 

Francisco Câncio; Ribatejo Lendário e Pitoresco.

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harvest

por jorge c., em 10.09.14

Quando as primeiras chuvas da colheita chegam e perfumam o campo de outono, a vida volta ao sítio e os blues normalizam-se na lezíria e no rio. Esta é a época do cheiro da água nas outras matérias. Na borda d'auga preparam-se os tachos para as sopas, a dobrada e o cozido. Já se vê o melão na estrada e os bonés regressam responsáveis às cabeças dos amadores. Sim, ainda falta, mas o Ribatejo precisa do outono para respirar e trajar-se a rigor.

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notas para uma teoria falhada

por jorge c., em 08.09.14

Mesmo que seja por mero passatempo, quando escrevemos somos confrontados com alguns dilemas éticos. Veja-se a construção de uma personagem, inspirada pela nossa percepção do mundo, com todos os preconceitos que tal envolve. O dilema está em publicar uma história de uma personagem a partir de estereótipos - um lugar comum latente. Para a literatura moderna será fundamental compreender que o mundo se transformou e que as idiossincrasias são, hoje, muito mais abrangentes. As características atribuídas a determinados grupos sociais alcançaram a transversalidade típica do fenómeno globalizador. Um bom escritor terá já entendido esta mudança e evitará a reclusão em estereótipos desactualizados. A própria utilização de estereótipos, para desenhar o perfil das personagens, obedece a um conjunto de complexos cuja generalização poderá ser injusta e sobranceira. Por outro lado, os comportamentos generalizados na sociedade conferem aos textos uma representação mais fidedigna da época. Este dilema é ético mas, a sua solução é literária. A questão que aqui coloco será óbvia para o leitor, certamente mais astuto, mas para o escritor, ou para o aspirante, a negligência que advém do entusiasmo da imaginação poderá resultar na sua desonra pública.

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os heróis de bogotá

por jorge c., em 03.09.14

Em Bogotá, há um grupo de novilheiros instalado nas portas da Praça de Touros de Santamaria, há quatro semanas, em greve de fome. Durante o dia de ontem, dois deles coseram a boca porquanto o seu protesto não fosse suficiente. Dizem estes jovens profissionais, vindos de diversas escolas taurinas, que o Alcaide da capital colombiana, extravasando as suas competências constitucionais ao proibir os espectáculos da tauromaquia, não está apenas a subtrair-lhes o trabalho, a sua cultura e a identidade mas, sobretudo, a liberdade. E que conceito tão extraordinário que é este da liberdade. Porque a liberdade para desempenhar uma profissão ou uma arte de risco, de confronto directo com a morte, não é compatível com o modelo pós-moderno que nos quer impedir de assistir ao cenário derradeiro e proteger-nos do real. Julgo ter sido Paul Valéry a alertar para esta tendência gradual do último século e meio. Na Europa, o berço da civilização, a narrativa contra a tauromaquia é outra e há uma preponderância dos direitos dos animais sobre o direito dos homens. O nosso espanto poderia surgir por a primeira preocupação não ser a vida humana. No entanto, habituados ao desprezo pelo outro (este ano comemoramos o centenário da Grande Guerra de 1914 - 1945), não me habituo, ainda assim, ao desprezo pela liberdade. A nossa e a dos outros. É por isso que os Novilheiros de Bogotá são heróis do nosso tempo; por acreditarem que vale a pena lutar pela liberdade - a deles e a nossa.

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manifesto conservador

por jorge c., em 02.09.14

De toda a filmografia de Jim Jarmusch, Only Lovers Left Alive será a sua obra filosoficamente mais - como dizer? - preponderante. Talvez tenhamos chegado ao ponto em que se torna urgente valorizar o que construímos. Lembrei-me de um breve apontamento que havia escrito sobre este assunto, há uns anos, se me permitem a auto-citação:

 

"Desconfio que a memória não sobreviverá sem registo. A relatividade do Tempo é a soma do facto com a ideia. Sem a memória, a relatividade do Tempo não existe e o mundo tornar-se-ia caótico. Sem registo, a memória seria demasiado vulnerável à mudança e ao erro.

 

O fundamento das instituições, das organizações e da família é que a memória fique registada em várias formas, de modo a que seja transmitida, perdure e alimente a dogmática da soma da ideia e do facto.

 

Há, apenas, uma coisa que pode substituir o acompanhamento da transmissão desses valores: a imortalidade. "

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breve ode setembrista

por jorge c., em 01.09.14

Por mera conveniência, o fim de Agosto confunde-se com o fim do verão. Talvez os dias já estejam mais curtos, é verdade. Talvez as noites, mais frescas, nos embalem lentamente para o outono, numa dissimulação bem intencionada. Este é o mês invisível ou de passo apressado, a luz finita do estio, o pôr-do-sol do ano inteiro. As coisas do mundo amadurecem ou, talvez, recuperem apenas a lucidez. Teremos tempo para a melancolia quando as folhas começarem a cair.

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