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notas da realidade ficcionada na lezíria
Depois de uma manhã invulgar, por compromissos médicos inadiáveis, Manel dos Pombos - nome herdado de seu pai por razões que agora não interessam contar - não se encontrou com o grupo habitual no sítio do costume. Porém, para que não julgassem que algum incómodo ou vaidade lhe tivesse assaltado o espírito, engoliu o almoço e arrancou em direcção ao placard dos mortos a fim de saber as novidades. Nada. É certo que é mais raro morrer alguém ao Domingo. A segunda-feira costuma, portanto, ser menos agitada. Do outro lado da rua, protegidos pela sombra, os outros ignoraram-no. O homem aproximou-se, dominado por essa incerteza de quem chega a meio de uma festa para a qual nunca houve convite, ensaiando uma atitude confiante. Mas, por dentro, Manel dos Pombos sentia a angústia de uma possível reprovação dos seus pares. Pelo caminho, havia decidido evitar justificações, decisão esta que, não tendo sido bem acolhida, acabou por gerar um desconforto que o obrigou a retirar-se antes do tempo previsto. No dia seguinte, o boato espalhou-se.