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notas da realidade ficcionada na lezíria
Houve um tempo em que a vila migrava para a costa oeste, durante o estio. De São Pedro de Moel à Ericeira, com especial incidência nas praias de Santa Cruz, as férias de verão eram um prolongamento da convivência, numa outra parte. Quando o mar estava mais violento, e a neblina ocupava os areais - o que acontecia com frequência -, os dias eram animados com sardinhadas, jogos de rua e passeios serenos que devolviam o oxigénio aos corpos exaustos. O tempo parava e as obrigações ficavam suspensas nas secretárias. As crianças tinham espaço para as pequenas aventuras e o cheiro dos pinhais misturava-se com o da água oxigenada e do mercúrio-cromo, no fim do dia. A liberdade inocente das férias culminava nas noites frescas, entre cartadas e conversas agasalhadas nas esplanadas. Naquela época, poucos iam para o Algarve dos pobres e muito poucos gozavam o dos ricos. A costa alentejana era ainda território por desbravar e o estrangeiro, um delírio. A oferta seduziu a procura e, por mais que se negue, destruiu o nosso retiro com prédios e condomínios de lixo. Passámos de veraneantes a clientes. Consumimos férias. Consumimo-nos.