Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
notas da realidade ficcionada na lezíria
Em Bogotá, há um grupo de novilheiros instalado nas portas da Praça de Touros de Santamaria, há quatro semanas, em greve de fome. Durante o dia de ontem, dois deles coseram a boca porquanto o seu protesto não fosse suficiente. Dizem estes jovens profissionais, vindos de diversas escolas taurinas, que o Alcaide da capital colombiana, extravasando as suas competências constitucionais ao proibir os espectáculos da tauromaquia, não está apenas a subtrair-lhes o trabalho, a sua cultura e a identidade mas, sobretudo, a liberdade. E que conceito tão extraordinário que é este da liberdade. Porque a liberdade para desempenhar uma profissão ou uma arte de risco, de confronto directo com a morte, não é compatível com o modelo pós-moderno que nos quer impedir de assistir ao cenário derradeiro e proteger-nos do real. Julgo ter sido Paul Valéry a alertar para esta tendência gradual do último século e meio. Na Europa, o berço da civilização, a narrativa contra a tauromaquia é outra e há uma preponderância dos direitos dos animais sobre o direito dos homens. O nosso espanto poderia surgir por a primeira preocupação não ser a vida humana. No entanto, habituados ao desprezo pelo outro (este ano comemoramos o centenário da Grande Guerra de 1914 - 1945), não me habituo, ainda assim, ao desprezo pela liberdade. A nossa e a dos outros. É por isso que os Novilheiros de Bogotá são heróis do nosso tempo; por acreditarem que vale a pena lutar pela liberdade - a deles e a nossa.