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rocket man

por jorge c., em 21.11.14

Tenho recorrido a serviços de prostituição desde que, nos últimos meses, me encontro distante de casa. A zona é fria e deserta. À aldeia mais próxima da obra só vem gente de passagem para comer qualquer coisinha, para comprar ferramenta ou para amolar a ferramenta, como é o meu triste e deprimente caso. Tenho olhado as montanhas na esperança de uma revelação que alivie este desconforto do corpo, que mais parece andar a revolver-se por dentro, à procura. Primeiro sentem-se as vísceras a empurrar a cabeça e a apertar o coração que vai acelerando. Depois vem o desespero porque a cabeça quer libertar-se, como uma nave de um foguete, e não consegue. À noite, o estado complica-se e não se adormece com facilidade. Sim, querida, o dia hoje correu bem, e o teu?

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cena de café para memória futura

por jorge c., em 20.11.14

Saímos a correr do metro em direcção a uma pequena coffee-shop numa das primeiras ruas do bairro. Não era bem um café, daí que lhe chame coffee-shop, visto que lhe dá o tom pretensioso e deslumbrado necessário. Era um lugar confortável onde nos separávamos temporariamente do desalento da chuva e do vento. Do lado direito, uma mesa com duas poltronas onde dois tipos bem parecidos se encontravam sentados. Um deles lia uma revista, o outro parecia atarefado com as definições do telemóvel e ia trocando impressões com o dono do negócio, numa voz muito bem colocada que enchia a sala de uma certa familiaridade, apesar do excessivo tom cosmopolita, de quem está no seu domínio e o resto é senão paisagem. Talvez estivéssemos ali a interromper aquele momento de alguma privacidade com silêncio, ou pelo menos ficou essa sensação, quando a música assumiu o protagonismo do espaço. O tema que soava nas colunas não era difícil de reconhecer, naquele ano de 2006, pelo sucesso que garantiu ao ambiente destes lugares da urbanidade, criando dentro do ruído e da urgência da cidade um breve espaço de languidez e doce melancolia. Nos anos seguintes, o som chill-out desse Love can damage your health, dos Télépopmusik, perder-se-ia no meio de outras novidades. Daquele fim de tarde de chuva, no chamado coração de Lisboa, sobrou a urgência e perdeu-se a estética - o único sítio onde gostamos de regressar.

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a arte de jd salinger

por jorge c., em 19.11.14

Nada há a dizer sobre Salinger. Não há qualquer explicação ou teoria. É o que é - literatura. Creio que seria, aliás, um erro brutal tentar ensaiar uma explicação qualquer para Catcher in the Rye e Franny and Zooey. A experiência de leitura de qualquer uma destas obras é a única relação existente entre nós e uma espécie de adrenalina transcendente. Essa experiência resulta numa impressão íntima de satisfação e inquietação que nenhuma teoria literária conseguirá convocar. Sobra depois a angústia do fim, de não haver mais nada, e a vontade de voltar à mesma experiência como se nos quiséssemos repetir, eternamente, a nós mesmos.

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uma legenda para a.

por jorge c., em 17.11.14

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Os cabelos cresceram e continuarão a crescer. Agora que já sorri, este é um Outono de esperança. É como uma força do céu azul nas nuvens cinzentas, a cor no preto e branco, o horizonte a rasgar a vida para uma outra vida, nova. A arte do fotógrafo é perpetuar as circunstâncias; é ver a poesia a passar para evitar o caos.

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salário

por jorge c., em 14.11.14

A gaja espirra e tosse como uma hiena. Quero matá-la. Não que eu saiba como espirra ou tosse uma hiena. Tenho, apenas, a sensação de que as hienas são animais miseráveis, feios, sonsos e que tudo isso se manifesta nas mais variadas excreções que o corpo permite. Pouco depois, aparece o Bruno da Contabilidade com as graçolas e os trocadilhos, aos quais todos acham imensa piada, sobretudo o Sousa, para quem o Bruno é "um tipo do caraças". O Sousa acabou de arrotar, coisa que faz habitualmente, inclusive de manhã. Na minha opinião, o Sousa é um porco, para além de ser fascista, o que nem sempre coincide. Por mim, o Sousa podia ser fascista à vontade desde que não arrotasse por sistema e não passasse o dia todo a informar os demais dos seus mais íntimos desejos com a Xana das Vendas. A picha, a sarda, os colhões, o cagueiro e as bordas da cona são expressões que dispenso ouvir quando estou a tentar dizer a um cliente, por telefone, que o atraso na entrega da encomenda das próteses não é da nossa responsabilidade mas que tentaremos resolver o assunto com o máximo de brevidade, pedindo, desde já, as nossas mais sinceras desculpas por qualquer incómodo. São cinco da tarde e a hiena está a dobrar a mantinha para se pôr ao fresco. Vontade não me falta. Mas um gajo tem de ficar para fazer de conta que se esforça para além da obrigação. O Bruno, por exemplo, estando de chuva, fica ali sentado a olhar para o tecto e a fazer comentários sobre um dos seguintes assuntos: engenharia civil; o melhor sítio para se comer uma francesinha em Lisboa; os planos para o fim-de-semana com o cunhado e um amigo de ambos que é polícia e segurança numa discoteca em Torres Vedras; invariavelmente, gajas. Lembrei-me, outra vez, de Isabel e das tardes soalheiras nas margens do Coura, a falar do futuro. Vou embora. Está a chover.

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o outro

por jorge c., em 11.11.14

Quando voltou as costas para regressar a casa, Graciano olhou ligeiramente para trás e pediu desculpa. Não era com intenção de ofender que brincava com Paulo por este viver na grande muralha de edifícios no sul do concelho. Quando chegava à escola, sabia que o amigo acordava cedo, no meio do betão, e vinha a correr para Vila Franca para respirar alegria, apesar de nunca dar parte fraca. Todos os dias, a conversa sobre a arrogância da provinciana capital de concelho e a arrogância da suburbanidade descaracterizada haveria de aparecer. Mas naquele dia viu o amigo triste. Tudo era cinzento. Como podia aquela grande muralha tapar o sol da vida, separar as mãos e quebrar os rostos no fim do dia? Na época das festas, Paulo não brincava nas ruas com os toiros e raramente aparecia. Tantas foram as vezes que Graciano o tentou aproximar... Se calhar estava na altura de aceitar ser convidado. Olhou para trás e pediu desculpa.

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uma compota vulgar

por jorge c., em 10.11.14

Era Domingo e jogava o Benfica. Comecei o dia a comer torradas com queijo de cabra, e uma compota de framboesa bastante vulgar, e a ouvir baladas do Dexter Gordon, em frente aos montes. A sala estava escura e acolhedora, mas não havia chá na dispensa, pelo que decidi continuar sozinho. Pensei ligar-lhe, talvez para dançar um pouco ou para olhar os montes em conjunto a ouvir as baladas do Dexter Gordon. Peguei no casaco e no cachecol, sem fazer a barba, e saí em direcção à avenida. Pensei na Galiza e nos seus bares onde, ao Domingo, debaixo de uma luz tépida, se ouvem as baladas do Dexter Gordon e se dança com olhos de amor serenos. 

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campino negro - III parte (final)

por jorge c., em 04.11.14

Apesar de um breve susto, não ficou surpreendido. Na verdade, já esperava ser confrontado pelo fenómeno obscuro que parecia estar na moda por aqueles lados. Ergueu ligeiramente o corpo e ficou a apreciar o cenário: um cavalo negro montado por um homem trajado de campino, de rosto indefinido e sombrio, ambos com uns olhos prontos a serem nomeados para a categoria de demónios do ano, que acabariam por condizer com o ferro da casa bordado na jaqueta. Tudo a arder, em volta, como uma aura dantesca que abre as portas para as profundezas da escuridão eterna. No que diz respeito a efeitos visuais, a coisa era muito realista, e digna do melhor cinema que se faz lá fora. Estavam todos de parabéns!

Quando se preparava para acender a luz do candeeiro (não que fosse necessário), o campino apontou-lhe a vara ao ombro, carregando ligeiramente para o devolver à posição inicial. Sentado na cama, António tentava perceber o que se estava a passar mas, do outro lado não havia qualquer reacção.

- Ouça, podemos chegar aqui a um acordo...

Tentou de tudo um pouco. Nem uma, nem duas. Nada. Começou a inquietar-se, a ficar impaciente e descontrolado. Invadia-o, agora, uma ligeira sensação de medo. A criatura era impenetrável. Desesperou e, já de joelhos, resignou-se ao seu fim. Foi então que começou a confessar-se, assumindo vigarices e aldrabices como se estivesse perante o juízo final, mas sem sentir qualquer arrependimento, apenas para ver se ainda lhe calhava algum indulto pela honestidade demonstrada. Então, por detrás do cavalo, surgia uma nova figura. Lentamente, vinda dos confins do universo, a imagem de uma nova criatura, numa cadeira de rodas, aproximava-se até acabar por estacionar a viatura ao lado do cavalinho. Estava ali montado um belo espectáculo, sim senhor!

Quando as chamas iluminaram, por fim, a nova visita, reconheceu-lhe as feições e o género austero e aristocrata de outros serões, à mesa do grande salão onde toda a família se reunia como que num ritual sagrado. Ao pé da avó Amélia viviam em regime de elevação e exigência vitoriana, para que se formassem homens e mulheres de carácter. No seu caso, o resultado não terá sido o desejado. E agora, ali estava a velha outra vez, prontinha para mandá-lo para o inferno. Por momentos, enquanto a cena não avançava, chegou a pensar que tudo isto poderia ser transformado numa oportunidade de negócio; que toda esta coisa dos fantasmas seria um golpe de marketing nunca visto e pessoas de todo o mundo viriam para confirmar com os seus próprios olhos. Ficaria rico em dois tempos, sem precisar do cobarde do Berto. Enquanto tentava encontrar forma de acalmar os ânimos, o silêncio rompeu-se e o animal largou uma grande bosta. O quarto do fidalgo ficou impregnado com o cheiro da natureza e, então, a velha falou:

- Se o menino está, neste momento, a sentir o cheiro dos excrementos do cavalo, então é porque não está a sonhar. Como deverá saber pela educação que o seu paizinho lhe concedeu, o olfacto não tem memória, logo, nunca poderia sonhar com um cheiro, por mais intenso que ele fosse. Os sonhos são feitos de memória - do passado, do presente e do futuro. Na verdade, a memória é algo que também não o parece preocupar e, por conseguinte, é assim que chegamos a esta escatológica realidade. 

- Muito bem, ouça...

- Silêncio! Falará quando assim eu entender. Desde criança que o seu comportamento e as linhas que traçaram o seu carácter se desviaram da nobre matriz cultivada pela família ao longo das gerações que a compuseram. Talvez nunca tenha entendido que uma herança é de matéria incorpórea e que o seu peso significa um sacrifício individual por algo muito maior do que nós. Nestas terras não corre apenas o nosso sangue, porquanto muitas mulheres e homens nelas trabalharam e por elas sofreram, na esperança da felicidade. Delas não sois digno. Restam-lhe, assim, poucas horas para arrumar as suas coisas e partir. Caso tal não aconteça, todas as suas noites terão a visita deste fiel maioral - guardião do tempo e da memória - que não lhe permitirá um momento de paz.

- Mas, Senhora Minha Avó...

 Como a permissão para se defender não lhe fora dada, o campino avançou sobre ele, ainda com o rosto indefinido, mas com uns dentes lancinantes como um Cérbero. O menino teve medo. Depois de três ou quatro rugidos, atirou-lhe uma segunda vara e começaram os dois a dançar o fandango. Como a habilidade do pobre diabo do Mello para o duelo era menos que razoável, um raio disparado da vara do Campino Negro abriu um buraco no soalho até às profundezas do derradeiro abismo, deixando o desgraçado suspenso pelas ceroulas. Era o fim.

Quando despertou já o quarto tinha regressado à normalidade. Olhou em volta, assustado, e nada, mas ainda conseguia sentir o cheiro do inferno. Vestiu-se à pressa e saiu miserável. Era Domingo.

Não pense o leitor que a Herdade de Montes Claros conheceu, depois de tudo isto, dias muito sombrios ou muito felizes. Como em tudo, os dias foram passando e, um por um, lá se foi reconstruíndo. Quando Isabel chegou ao solar, esperava-a Pedro Inocêncio, seu amigo de infância que agora lhe entregava uma carta perdida, deixada por seu pai, o menino Eduardinho. Era uma descrição bela da lezíria e um chamamento da sua gente, para que não a abandonasse à mercê da sua sorte. Olhou para Pedro e disse-lhe num tom melífluo:

- Vai ficar tudo bem.

 Nessa noite houve sexo. 

 

FIM 

 

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campino negro - II parte

por jorge c., em 01.11.14

Não é fácil um homem tomar decisões contra as suas mais profundas convicções. Se não acreditava em fenómenos do além, como poderia tomar uma decisão com base num esoterismo? O dilema tomou conta do seu espírito, porquanto a incerteza e a dúvida começavam a dominá-lo. Pela primeira vez, duvidava, punha em causa séculos de ciência, de racionalismo, de lógica, de dialéctica. Tinha de haver uma explicação. Provavelmente, um dos seus primos, invejosos maltrapilhos, queria deitar a luva ao que era seu por direito e montou ali um teatrinho, de forma a expulsá-lo dos terrenos. "Era o expulsas!" Dali, ninguém o tirava. 

A ordem era para disparar a matar. O Sargento tinha assegurado que a guarda testemunharia a legítima defesa se algo se apresentasse como um facto imprevisto. Quanto aos fantasmas, se existissem, não teriam personalidade jurídica. O importante era resolver o assunto à moda antiga, que estas coisas não se podem tratar com paninhos quentes e esperar que venha uma rapaziada de Lisboa cheia de estudos e formalismos que só atrapalha e não chega a conclusão alguma. Para além disso, o negócio era surpresa e não é justo estragar uma surpresa. O Dr. António e o sócio queriam passar despercebidos, sobretudo perante o fisco. Gente modesta e discreta.

Foi então que mandou Berto ir lá com o sargento, a meio da noite, de forma a certificarem-se de que não aconteceriam mais episódios daqueles. As obras atrasavam-se cada vez mais e, como se sabe, o dinheiro não pára, como as passadeiras dos aeroportos: ou se é eficaz na recolha da bagagem, ou já era. Há que ser implacável e fazer acontecer. Podíamos ficar aqui o dia todo a trocar galhardetes de auto-ajuda mas a história tem de avançar e o campino prepara-se para atacar.

Ainda não era meia-noite quando se instalaram debaixo do sobreiro, com as armas em riste, à espera de movimentos suspeitos que pudessem vir de além, que é como quem diz do além. Se Deus os ouvisse, diria que tinham perdido o juízo, contudo, como é sabido, Deus não dorme mas descansa a vista e, àquela hora, não estaria para se chatear com detalhes sem importância. A religião tem minudências caprichosas que nos dão imensa margem de manobra. Um tipo com boa breakage consegue mexer-se muito bem nas vielas da vida, para depois seguir pela auto-estrada da eternidade sem contratempos. Como não se passava nada, Berto sacrificou-se e decidiu pensar. Depois de uma reflexão exigente, concluiu que o mais indicado seria simularem uma situação de obra de modo a que os fantasmas, ou lá o que era aquilo, se manifestassem. Que inteligência! O leitor repare como este homem teve a humildade e o discernimento de admitir que aquilo que ele e o seu sócio estavam ali a fazer nem aos espíritos agradava. A isto se chama pragmatismo.

Ao contrário de António, Berto era temente e não lhe era fácil desafiar assim o desconhecido. Encheu-se de coragem e ordenou que ligassem as máquinas. Alguns minutos depois, reparou numa sombra que começava nas ervas e se esticava até ao cercado, terminando na figura de um homem sentado, de costas. O homem olhou por cima do ombro e Berto viu-lhe na silhueta o olhar demoníaco, vermelho de sangue do fogo dos infernos. A espingarda tremia-lhe nas mãos, apontou cauteloso e disparou. Mal ouviu o disparo, o Sargento Ribeiro precipitou-se para trás do jipe dando ordem para que os subalternos avançassem. Quando o tiroteio cessou, o homem ergueu a vara e, de repente, uma manada de gado bravo, de olhos igualmente infernais, investiu contra os corajosos militares que, mal a viram arrancar, desataram a correr campo fora até se aperceberem que não tinham onde se esconder. Ainda assim, Ribeiro esqueceu os 97 quilos e seguiu correndo até vislumbrar o solar, onde acabaria por chegar sem o boné da farda, todo desfraldado e apenas com meio pulmão a funcionar - o orgulho da sua mãezinha.

Na outra ponta da herdade, Berto era encostado ao tronco da árvore pela bota daquela criatura lúgubre, sem rosto, apenas com aquele olhar mortífero e que só numa distante aparência se assemelhava a um homem. Um campino, talvez, sim. 

- Que queres de nós? - gritou Berto, aterrorizado.

A criatura estendeu a vara, apontando imperativamente na direcção do solar. Retirou o pé do ombro do pobre empresário que acabou por seguir cambaleante e aos tropeções, durante mais de uma hora. Foi como um farrapo que chegou às portas do solar e, sem parar, remetendo-se ao mais profundo dos silêncios, entrou no seu carro e partiu. Atrás dele, um pouco mais recompostos, os guardas e o seu chefe seguiram-lhe o exemplo e deixavam António Feitor de Mello sozinho. Era só um começo.

Ainda nessa noite, encontrar-se-ia deitado, sem conseguir adormecer. Não obstante a idade do soalho, habituara-se ao ranger da madeira desde muito novo. Nunca tinha sentido medo. De nada. Porém, não podia negar que os acontecimentos das últimas horas atingiram um grau de paranormalidade assustador e que a sua vida poderia estar, agora, em risco. Quando, finalmente, estava prestes a dormir, sentiu uma presença no quarto. Convencido de que estava a ser sugestionado pelo medo, não abriu os olhos de imediato, tentando concentrar-se no sono. O som demasiado próximo dos cascos de um cavalo acabaria por despertá-lo. À sua frente, o Campino Negro. 

 

 

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