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notas da realidade ficcionada na lezíria
Viver num tempo em que se compreende a gravidade de uma depressão na perspectiva clínica é fascinante. Não nos pode, no entanto, desviar a atenção do nosso entendimento do outro. O paciente da depressão enfrentará um período de convalescença dos mais longos que a medicina conhece, porque esse período não é apenas o da conclusão clínica do caso, mas o do renascimento do próprio ser dentro da sociedade, com novos mecanismos de defesa e, com toda a certeza, com a sua nova percepção das coisas. Talvez lhe pudéssemos chamar um homem novo, na medida em que se libertou dos seus bloqueios ou se fechou para sempre do exterior. Transformou-se. O pós-deprimido é, por isso, o resultado da metamorfose.
Enquanto o prédio dorme, vou pensando no céu e na terra. Emociona-me o sono dos outros, ou as suas insónias de pranto, desespero, de amor, felicidade e serenidade. Talvez nestes andares todos não esteja ninguém a pensar no céu e na terra e estejam, sim, a tentar sobreviver aos seus caprichos. É como estar com os pés no céu a observar os outros com os pés na terra. Depois de uma ligeira inveja, começo a assumir a condição e deixo-me adormecer no infinito.