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notas da realidade ficcionada na lezíria
Dizia o poeta que nenhum homem é uma ilha, como quem diz que só em conjunto se dão passos maiores, como aquele do astronauta americano que pisou a lua em nome da Humanidade. No entanto, nos passos pequenos do expediente nem sempre são precisos dois para dançar o tango. Por vezes, atrapalha. Não é, porém, o perfeccionista que pretendo descrever mas, antes, um homem que, descrente da capacidade de distanciamento dos demais para prosseguir um determinado caminho, sem manifestações subjectivas, se eterniza na liderança do movimento que o próprio criou e cujo ligeiro desvio não é capaz de aceitar. É um medo angustiante que a ideia se desvirtue nas mãos erradas. Ao Complexo de Louçã associa-se umbilicalmente a Síndrome do Sonso; o vírus da subserviência falsa; o inconformismo beato daquele que, assim que lhe derem oportunidade, deixará que a sua opinião se sobreponha ao caminho que foi traçado, não compreendendo que a ética dos meios justifica a moralidade dos fins.
Quando o assunto do dia assim o obriga, explode um vulcão de palavras que se agrupam urgentemente, devastando o silêncio e a gramática elementar. Os dedos precipitam-se pelas teclas, num excesso de linguagem, e sente-se o medo de que algo fique por dizer. Já nem as frases respiram e o raciocínio, turvo, é uma mera pretensão. Palavras atrás de palavras. Repetem-se. Redundam. Reinventam significantes e significados. E a ideia apaga-se porque não restam intervalos para respirar. E então, nada.
A lei e a poesia são sofisticadas. Distinguem os elementos, relacionam possibilidades infinitas, aprofundam a simplicidade e espalham-na em partículas finas de camada quase imperceptível. A lei é poesia e a poesia é tudo. E a isto chamamos, então, civilização.
É mais fácil o compromisso com o erro nas cidades pequenas. Por aqui, ninguém gosta de assumir o desconhecimento e todos, à sua maneira, são submetidos ao medo daquilo que julgam ser a ignorância, atirando-se deliciosamente para o abismo da mesma. Entre a estética e a ética, escolhem a primeira sem titubear. Na borda d'água, mais vale parecer do que ser.