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notas da realidade ficcionada na lezíria
Tem sido um Janeiro de despedidas. Encontramo-nos muitas vezes na elegia colectiva quando a figura é grande, universal, inspiradora. No meio das sucessivas despedidas, há um homem que terá passado despercebido ao mundo, mas cuja magnitude inspirou gerações de raparigas e rapazes, nessas idades em que a nossa intimidade luta entre o que somos e o que os outros querem de nós. É nesse tempo que surgem indivíduos que mudam a nossa vida; que - lá está - nos inspiram.
Não fui um desses rapazes. Não o conheci. Mas foi numa tarde como a de hoje que me emocionei com o reconhecimento de um homem que, até então, desconhecia.
João Chaves - o Joãozinho da voz doce, como lhe chamavam - foi professor na D. Pedro V, tendo atravessado algumas gerações de alunos, entre o antigo regime e o pós 25 de Abril. Durante esses anos, ergueu um grupo coral por onde passaram centenas, senão milhares, de alunos de origens tão distintas que o resultado não poderia ser outro senão uma das mais belas expressões da identidade colectiva, da solidariedade e da comunhão. Só um homem com um raro espírito de humanidade poderia, então, tantos anos depois, numa tarde de chuva, reunir à sua volta um reconhecimento tão profundo.
Soube, por estes dias, da morte do grande maestro dos alunos da D. Pedro V, escola com a qual eu não tinha qualquer relação até àquele dia. Quando a notícia me chegou, lembrei-me, com a inevitabilidade com que a música me visita, dessa tarde e da emoção que senti ao ouvir as palavras de Gomes Ferreira na música de Lopes Graça, cantadas por aquelas mulheres e homens que traziam, então, o brilho da adolescência nos olhos. Esse brilho que acende de almas e de sóis os mares sem cais e imortaliza os nossos heróis que dormem nos covais.