Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
notas da realidade ficcionada na lezíria
Sombria, a guitarra de Polly Jean rasga o Agosto passado e tenta romper por Setembro dentro, sem pressa, num compasso com tanto de lânguido como de sádico. Na sua página oficial, um artista queixa-se da falta de reconhecimento pelos seus pares, pelo público e pelo cosmos. Dois jornalistas discutem o estado do setor no Facebook, invocando as razões iniciais que os levaram à profissão. Um cínico faz uma revista dos posts, deixando comentários como um pombo que larga dejetos nas praças ao longo da cidade, voltando depois à sua aborrecida realidade. Cidadãos anónimos esfregam os olhos nos transportes públicos na ressaca dos dias quentes e da água tépida. As chefias chegam depois da hora; outras já lá estão desde ontem. Pisa-se o passeio com mais convicção do que antes, com a substituição da calçada. Há buzinas e travagens bruscas. Um estafeta consulta o Whatsapp numa paragem de autocarro e o empregado do snack-bar Maré Alta acaba um Filtro enquanto arruma o resto da esplanada. Um homem discute com ele a mão na bola e um outro lê as notícias num jornal onde os jornalistas já nem discutem o estado do setor. Num quarto arrendado, uma desconhecida celebridade da cultura nacional dorme abraçada a um jovem Erasmus. A guitarra e a voz de Polly Jean estendem-se pela minha manhã ocidental.