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notas da realidade ficcionada na lezíria
Começámos o ano a cantar e a tocar, numa grande festa em casa da Ana Luísa, que nos recebeu com generosidade e carinho. E, embora não seja um entusiasta do ritual de passagem de ano, é agradável ver o sorriso de estranhos que se cumprimentam, como um sinal de esperança, de que é possível ser amável com o semelhante. Na mesa com o banquete já não cabia mais nada e havia vinho para mais duas festas. Havia um certo cheiro no ar, de ócio. Não há nada melhor na vida do que o cheiro do ócio.
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Sempre que descubro músicos mais obscuros, sinto uma imensa injustiça e apetece-me desatar a fazer telefonemas e obrigar as pessoas a viver aquilo comigo, naquele momento, com aquela pele e aquele nervo todo que vinham das guitarras do Ricardo Quinteira, das vozes da Sara Alhinho e da Aixa Figini e do cada vez mais invulgar sax soprano do Diogo Picão. Tenho demasiada dificuldade em me manter como um mero espectador das coisas que acontecem assim, na vida. Parece-me sempre algo egoísta.
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É tudo muito bonito, mas ainda só passaram umas vinte e quatro horas e já discuti no trânsito. Fico sempre fascinado com a capacidade que as pessoas têm de constranger a vida dos outros e dar cabo deste otimismo a que nos vamos obrigando suavemente no início do ano. Tinha resolvido discutir menos com o mundo. Lá se foram os planos.