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notas da realidade ficcionada na lezíria
Fui alertado para o facto de a tarefa ser impossível, logo após ter anunciado o meu desejo de a executar. Não vais conseguir - diziam -, há demasiadas distrações. E se as havia... Sempre que me preparava para a iniciar, novo ruído, nova interrupção, um constrangimento qualquer. Mesas que mudavam de sítio, uma intervenção elétrica, um teste, uma festa. "Estás a ver? Não vais conseguir." Quando pedi sossego, o tom indignado e os olhares reprovadores reagiram. Depois, o desconforto hostil concentrou-se na própria tarefa. Já não era o facto de ser impossível, era ser má e era eu estar obcecado por ela. Às distrações chamavam urgências e à tarefa o trabalho que devíamos estar a fazer, mas que não podemos por causa de todas as urgências. Finalmente, para que pudesse executar a tarefa, chegou à mesa um conjunto de documentos para preencher e que se acumularam com o tempo. Um dia, também eu esquecerei a tarefa e, sempre que alguém a tentar desenterrar, serei o constrangimento obediente.