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notas da realidade ficcionada na lezíria
Hoje de manhã recebi a notícia da morte do JB. Teve uma vida dramática e o final não foi menos trágico. Afogou-se num rancor que o levou para longe de todos e perdeu as capacidades essenciais. A notícia chegou-me por sms, que é uma forma ingrata de nos apanhar desprevenidos. Mais tarde, uma notificação do Público no telemóvel anunciava a morte de Júlio Pomar. E é assim que agora ficamos a saber da morte, por notificação.
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Para evitar as declarações sentimentalistas duvidosas na televisão, fui ler alguns excertos de Textos e Variações. Pomar tinha uma escrita muito semelhante à pintura: um traço fino e poético, uma procura do real, um olhar sobre o mundo e sobre a cultura do mundo. Fechei os olhos e relembrei o desenho que ocupa toda a parede interior do Museu do Neo-Realismo, onde se ergue, imponente, um camponês que nos obriga a olhá-lo de baixo para cima. Em mais nenhum ponto do museu conseguimos ver a imagem integral, só cá de baixo. Mas não o devemos apenas à curadoria. Devemo-lo, sobretudo, a essa ideia que tantas vezes debateu com Lima de Freitas, Cunhal ou Redol de que a arte também tem de representar as preocupações reais do homem comum e não, apenas, as aspirações metafísicas do artista.
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Há uma certa espiritualidade nas coincidências. Hoje, enquanto ajudava MS a montar a sua instalação da próxima exposição, deparei-me com uma impressão onde estva inscrito o nome de Pomar e de um dos seus livros. Creio que ao lado também se via, sobreposta, uma das suas pinturas. As coincidências têm a capacidade de nos demonstrar como a relação que temos com as coisas consegue ser tão singular.