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a viagem

por jorge c., em 16.06.14

Tenho passado a vida numa viagem. Fiz esta viagem tantas vezes quantas as possíveis, como se quisesse regressar a um lugar onde nunca estive. O comboio partiu sempre sem pressa mas, o meu corpo, agitado, angustiava nervoso a cada casa que descaracterizava a paisagem idealizada. Passei veloz por todo esse caminho, as casas paradas, a ficarem para trás, enquanto o meu movimento era um fio de tempo inquieto. Foi o tempo das cidades, da pretensão urbana em ser vida decente. Foi o tempo das exigências e das solicitações impacientes que congestionaram o espírito em hora de ponta.

Cada viagem que fazemos deixa-nos mais longe da origem. Porque sempre que regressamos somos outra gente e outros lugares dentro de nós, um outro mundo que nos define noutras formas até à imperfeição final. Na verdade, nunca serei o mesmo no mesmo lugar mas, aqui estando, agora, sinto-me a ficar como se de um regresso decisivo se tratasse. 

Faço a viagem novamente e vejo as casas e as árvores e os campos a passarem velozes e eu a ficar. Da janela, vejo o horizonte fixo e um sol a pôr-se razoável para os olhos lentos. Todas as outras janelas da carruagem estão fechadas, os olhares impacientes e o pânico do reflexo da luz lá de fora nos monitores dos computadores; um trabalho para concluir antes de visitar a família, um negócio mal fechado, uma conversa interrompida durante o arranque do comboio sobre as relações online, o filme sacado, o jogo circular. Passam velozes pela paisagem, pelos lugares e pelo céu sem fim. Vão perder o pôr-do-sol e o cheiro da fuligem na penúltima estação que nos permite sonhar com o que nos espera, que nos ilude sem certezas ou nos angustia com a certeza da incerteza. É essa a impressão debaixo da pele.

Este é um breve diário escrito na borda d'água das pequenas vilas e cidades do Baixo-Tejo, onde a lezíria se estende até ao infinito, ao meu infinito pessoal. Um diário único de ficções que se estreia no Bloomsday, por mera coincidência mas, que será sobre as mesmas dúvidas.

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