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notas da realidade ficcionada na lezíria
José Gil falava há uns dias na rádio sobre a massificação da cultura e da obra de arte. Na breve passagem que consegui ouvir, o filósofo narrava um episódio a que assistiu num museu, em que dois indivíduos, jovens, passavam pelas obras para assinalar com uma fotografia e dizer "este já está". Luís Naves, num texto de magnífica ira, escreve que "em vez de emoções, as pessoas experimentam obsessivamente novas sensações, tudo à flor da pele, pois estamos na era do explícito e do efémero." Estaremos a passar por um período de desculturação? Ou seja, um período em que o modelo social se inverteu de tal forma que se assiste a uma perda do valor cultural e a uma preponderância do produto de entretenimento que, por sua vez, irá gerar uma sociedade cada vez menos exigente. Esta desculturação implicaria uma quebra na qualidade das elites e da forma do seu mediatismo ou, até mesmo, uma alteração radical das elites e do modelo social proposto pelos meios de comunicação. Não podemos, aqui, ignorar o papel da escola e do serviço público de rádio e televisão, bem como de todo o jornalismo. Não quero dizer com isto que um desmantelamento do fenómeno cultural, que eleva o conhecimento das sociedades, seja provocado. Parece-me mais que se trata de uma desvalorização progressiva, na tentativa de adaptar linguagens à tecnologia. O instrumento tornou-se o fim. A desculturação seria essa subversão.