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notas da realidade ficcionada na lezíria
Entre o tédio e o vento, recebo uma mensagem a informar-me sobre um programa dedicado à música popular portuguesa. No seguimento de uma troca de impressões sobre o documentário, notou-se a tendência para uma temática geográfica, à época. Foi talvez um tempo em que se quis fazer de Portugal um destino à la Saint Tropez. Eram cenários idílicos, de estações amenas, termas e cuidados; uma vida saudável rumo à eterna serenidade e, quem sabe, ao amor providencial. Lembrei-me daquela canção do João Maria Tudela que costumava cantar, por graça, quando era miúdo - Lua de Mel em Portugal. Lembrei-me desses lugares por onde passei, num tempo em que as férias de três meses enchiam os salões de glamour e familiaridade, como se Gatsby não tivesse rasgado a Lei Seca. Era um Portugal de virtudes serôdias, que nascia da estética asilada destas pousadas, pensões e estalagens, que ficou congelado com aqueles lugares ou a degradar-se longe da vista e do coração. Na Lezíria, a memória do Gado Bravo - lugar cimeiro do meu imaginário ribatejano - foi arruinada pela passagem do tempo e da vontade, como que condenando o western português ao olvido derradeiro, numa morte tão lenta quanto o tempo permitir. O charme dos lugares é agora uma paisagem triste na memória dos loucos.