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notas da realidade ficcionada na lezíria
Inácio está numa segunda-feira perpétua, a olhar para os navios que chegam à doca, desafiando o horizonte e as possibilidades. O que estará para além do mar? Os olhos curiosos e sonolentos, os pés acariciados pela água morna que banha a central térmica Costanera, as mãos no chão a suportar o tronco, o corpo curioso e sonolento. Um homem aproxima-se e manda-o sair dali. "Fascista!", responde o rapaz, "o mar é de todos!" e sai disparado em direcção a Boca; em frente ao estádio simula um remate e festeja o golo e por toda a cidade se anucia e celebra esse outono porteño e um bandoneón toca alegremente melancólico e, então, nada muda. Inácio regressa a casa. A escola ainda não começou. O melhor será esperar pelos outros. Pega num livro e lê:
"Las calles de Buenos Aires
ya son mi entraña.
No las ávidas calles,
incómodas de turba y ajetreo,
sino las calles desganadas del barrio,
casi invisibles de habituales,
enternecidas de penumbra y de ocaso
y aquellas más afuera
ajenas de árboles piadosos
donde austeras casitas apenas se aventuran,
abrumadas por inmortales distancias,
a perderse en la honda visión
de cielo y llanura.
Son para el solitario una promesa
porque millares de almas singulares las pueblan,
únicas ante Dios y en el tiempo
y sin duda preciosas.
Hacia el Oeste, el Norte y el Sur
se han desplegado - y son también la patria - las calles;
ojalá en los versos que trazo
estén esas banderas."
Depois, estendeu-se sobre a cama e adormeceu antes que o acordassem.
*poema de Jorge Luís Borges