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notas da realidade ficcionada na lezíria
Subiram o monte, pela fresca, com a procissão. Carregavam os farnéis nas costas; as mulheres compenetradas na reza ao Senhor Jesus e a rotina dos dias em que o pau não folga nas costas a ficar para trás. Seguiam animados, estrada fora, com os casebres a desaparecer por baixo dos silvedos e, ao passar as águas férreas, libertavam o cansaço das pernas com as judiarias do costume:
- Eh, Chico! Olha q'o barril vai furado.
- N'andasses tu a cheirá-lo desde a madrugada.
- É porque acordei cedo. Quem muito dorme, pouco aprende.
Chegados à romaria, abancaram junto das sombras e, antes de estenderem os ossos nas mantas, entraram na pequena igreja com os bonés na mão, com as mulheres chorosas dos filhos perdidos para os poupar a todos da fome, com a fé inabalável dos inocentes. Perdoai-os, Senhor, que o pecado é a vida possível dos homens. E logo de seguida esqueceram a dor e beberam e dançaram e gargalharam. Homens de rosto rude, com um ar tonto e um passo ébrio; burros de carga das coisas pesadas da vida, sem queixume; mulheres da carga pesada dos burros.
Tristezas à parte. A tarde passou. Ficam agora no cimo dos montes a sentir o desequilíbrio do vinho para equilibrar o espírito ao som da toada da cidade e dos campos. Com a Sua benção.