Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
notas da realidade ficcionada na lezíria
Estive quase para me chamar Inês mas, à última da hora, passou-lhes a iconoclastia. Não seria confortável, convenhamos. Já é difícil que chegue um tipo conviver todos os dias com o seu nome, que é um nome comum, tendo já tão pouco de próprio e distinto, e que, à partida, não carrega consigo nenhum fardo insuperável. E em matéria de nomes, admita-se, há fardos insuperáveis. Muitas vezes, são as alcunhas felizes, atribuídas pelos outros, que relançam a nossa esperança em viver com um nome que nos distinga. Outras vezes, somos nós próprios a criar um pseudónimo, como se um novo baptismo nos devolvesse a justiça de uma identidade pretendida. Aconteceu com Herberto e Gedeão. E Rómulo é um nome tão distinto e seguro. Mas por vezes olhamos para o nosso nome como se fosse um estranho, algo que não nos pertence, uma alcunha que nos atribuíram sem o nosso consentimento. É uma falsa crise de identidade. Olho-me, agora, ao espelho e repito o meu nome, tentando que a imagem reflectida e o nome combinem. Nada feito. São perfeitos desconhecidos. E se eu pudesse chamar-me outra coisa? Talvez uma letra, como em O Processo, ou uma cor como em Cães Danados. Qualquer outra coisa que me acalme esta angústia de não saber se algum dia olharei para o espelho e distinga uma identidade própria e única. Pensando bem, talvez Inês tivesse resultado.