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notas da realidade ficcionada na lezíria
Conta o Maestro Mário Coelho, antigo matador de toiros, que, no tempo das suas maiores glórias, instalou-se na Loja Nova em benefício da sua privacidade. Naquela época, as figuras do toureio eram como ídolos pop, num país onde ser artista era desprestigiante. Longe do anonimato e da insignificância dos primeiros passos, sentiam necessidade de isolamento para recuperar as forças e o espírito. O quotidiano da vila, depois das grandes digressões pelo mundo - entre jantares, festas, entrevistas e toda essa sociabilização protocolar - consumia o espaço privado de quem procurava a quietude merecida. Talvez essa carência do silêncio fosse encarada como um sinal de sobranceria e elitismo, por incapacidade de se compreender a rotina exaustiva dessa exposição ao mundo. Na verdade, todos nós, por vezes, mais exigentes com a reserva da privacidade, procuramos um momento de turistas na nossa própria casa, admitindo como legítima a indisponibilidade para a habitual presença nas ruas onde queremos voltar a caminhar anónimos. É como se, por breves instantes, a vida pudesse ser um quarto de hotel, dispondo-se de um cartão para colocar na porta, no qual anunciamos do not disturb.